Discurso proferido por Izidoro Flumignan na solenidade das ”Personalidades
do Ano de 1977” da Cidade de Campo Mourão realizado em 23 de dezembro de 1977. Nossos ilustres homenageados:
Quando solicitado, pela nobre comissão promotora desse evento, para lhes trazer uma saudação no momento que lhes é conferida a singular distinção de “Personalidade do Ano” pensei em fugir, recusar, à responsabilidade do tremendo encargo, mas ponderei que o convite, se era dos que não podem ser solicitados, era também dos que não podem ser evitados, pela sua magnitude.
Entendi ainda, que a comissão promotora da homenagem, nas pessoas dos ilustres jornalistas Pedro Martins e Joani Teixeira vinculados ao jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Interior, respectivamente, querendo confiar essa missão a uma pessoa isenta de paixão política, desobrigada de compromissos partidários, escolhera a mim não o mais digno, mas justamente o mais humilde, para que este preceito cívico tivesse como intérprete uma voz saída da massa popular. A missão impunha-se, não só pelo alto valor de sua significação, como, ainda pela afinidade complementar, que existe entre o objetivo e a minha compreensão individual do sentimento de patriotismo.
Quando nosso alcandorado poeta Olavo Bilac, em 1916,
proferia uma veemente alocação em homenagem a Paranhos do Rio Branco, o grande
estadista brasileiro, enfatizando a importância do momento, no seu verbo
eloquente, dizia ele que ... “os homens de pensamento e os homens de ação; os homens
de estudo, que vivem apartados da agitação política, entregues à preocupação serena
das artes e das ciências; os parlamentares e os jornalistas, que vivem de sol a
sol, pensando, falando, escrevendo, agindo na luta incessante; aos homens do nosso glorioso exército, cujas
espadas valorosas se altivam e refulge, não para promover conquistas brutais, nem
para servir da força contra a razão, mas para formar, unidas em torno da Pátria,
uma sagrada muralha que abrigue e defenda de surpresas o seu progredir pacífico; os homens da nossa gloriosa marinha, antes
diplomatas do que guerreiros, encarregados de conduzir pelos mares largos as
cores sacrossantas de nossa bandeira; os homens que vivem do amanho da terra e
os que vivem da agitação fecunda do comércio; os operários, formigueiro humano,
cujo labor anônimo lentamente prepara, na sua humilde tarefa incessante, a
grandeza econômica do Brasil; a imensa multidão dos moços estudantes, confederação de almas jovens
e ardentes, que já aprenderam, na convivência dos grandes mestres da ciência moderna,
que a humanidade, libertada das superstições antigas, fatigada dos ódios estéreis,
desenganadas da eficácia dos conflitos bárbaros, só espera do advento de uma nova
era, cuja religião seja o culto da Justiça e do Amor entre os homens; todas as
classes sociais; todas as parcelas grandes ou pequenas, gloriosas ou modestas,
cultas ou rudes, cuja adição forma a forte massa homogênea do povo brasileiro;
todos os representantes da Ideia e do Trabalho; todos os que, de alguma forma,
colaboram na obra santa do engrandecimento da pátria, pelo esforço do braço ou pelo
esforço do cérebro, pelo ato ou pela lição, dirigindo ou obedecendo, pensando
ou executando, todos os brasileiros, todos... ... dizia Olavo Bilac, todos estavam ali presentes no ato da
homenagem.
Outro tanto poderíamos nós, se nos fosse permitido dizer,
deste feliz encontro de nossa sociedade, aqui reunida para esta homenagem, que
ora se presta a vós outros “personalidades do ano”, pois presentes se encontram
aqui as mais gradas pessoas representativas dos órgãos comunitários, das
empresas públicas e das empresas privadas e cuja presença é o mais eloquente
atestado de que os homenageados se dignificaram com seu trabalho e recebem uma
pequena parcela do reconhecimento da comunidade a quem aqui vem servindo. Mas perguntar-se-á, qual foi o procedimento da escolha? Beauchêne, Pierre Beauchêne, médico e literato francês do
século passado, fazendo reflexões sobre as ações dos homens sintetizou o seu
pensamento no seguinte adágio: “Quereis saber o que os homens pensam? Não ouças o que dizem
mas observa o que fazem”. A afirmação de que a ação traduz o pensamento, revelando a
verdadeira personalidade do homem.
Foi atendendo o raciocínio semelhante ao preconizado por Beauchêne que a comissão promotora desse singular acontecimento reuniu as personalidades que ora são homenageadas. Não foi certamente procurando saber o que diziam cada qual delas, mas o que efetivamente fizeram, constatando que cada qual das personalidades destacadas no seu campo de ação, havia construído alguma coisa que não servia tão somente ao seu próprio comodismo, a satisfação de seu interesse particular.
Cada qual havia elaborado ou está elaborando uma entidade útil a nossa comunidade.
- Este planejou e levou a efeito um edifício público. Aquele
reorganizou uma instituição de ensino que tendia a se dissolver. O outro trouxe
ideias políticas para acelerar o progresso da comunidade. Um dirigiu os
negócios públicos. O securitário,
promovendo a sua empresa, se preocupou com a segurança dos concidadãos. O tráfego urbano foi revisado de forma a
diminuir os lastimosos eventos. Alguém levou a efeito a expansão da cidade, orientando
e assessorando a transferência de lotes urbanos. A saúde do povo não foi
descuidada. Nem foi descuidada a produção agrícola, seu armazenamento, conservação e transporte. Alguém cuidou da segurança pessoal dos
cidadãos e da inviolabilidade de seus domicílios.
Não se faz necessária a indicação nominal dos autores de
tantas obras que engrandeceram e tranquilizaram a nossa comunidade nesse
exercício que se finda. Mas se torna imprescindível, que a sociedade beneficiária de
tantas obras, visualize esses artífices de seu progresso e a ele preste o
reconhecimento de que são credores, para que estimulados, continuem acalentando
o ideal que os trouxe até aqui, no seu assíduo labor.
Salústio,
o escritor romano, não tinha razão quando
ponderava que cada um de nós somos artífices da própria sorte, porque o
homem
não consegue vencer sozinho as grandes vicissitudes da vida, porém
reunido em sociedade,
perdem o sentimento de sua fraqueza como já ponderou o festejado
Montesquieu.Reunidos em sociedade, isto é, fazendo para si e para a
comunidade, conseguem os homens as espetaculares vitórias que os meios
de
comunicação nos informam a cada momento.
Com essas considerações, que nos parecem adequadas à ocasião - bosquejando
um quadro em rápidas pinceladas - porque o nosso tempo é limitado e a paciência
dos senhores já chegam aos limites, com essas considerações, entendemos que a
comunidade presente a este acontecimento, tributando, às personalidades eleitas,
a homenagem que lhe é devida, sem favor algum, as tornou mais coesas, mais
solidárias, mais sintonizadas com o pensamento e as aspirações sociais, mais
irmanadas com a sorte de seus semelhantes e gratificadas a si mesmas.
E redobram-se os encargos da consciência dos nossos
homenageados, muito dos quais contemplados com igual insígnia no ano transato, e que neste ano se fizeram novamente
merecedores do galardão, para que não pensem que esse tributo signifique terem
dado já toda a sua parcela de trabalho à comunidade e que agora podem cruzar os
braços e dormirem em berços esplêndidos como se tudo desse já tivesse doado,
porque muito mais estão na contingência de doar agora, contemplando da obra que tinham em mente
quando iniciaram sua edificação.
Tenho dito. Foram homenageados:
- Augusto de Oliveira Carneiro - Oyrso Cardoso - Antônio Cotrim - Luiz Massaretto - Alfonso Germano Hruschka - Namir Alcides Piacentini - Rosalino Salvadori - Francisco F. Claudino - Augustinho Vecchi - Wilson Yurk - José Aroldo Gallassini - João Sérgio Kffuri - Alfrido Tokarski - Diogenes Teodoro de Oliveira - José de Batista Filho
Fonte: A Trubuna do Interior, edição do dia 01/01/1978 na coluna social de Joani Teixeira. |